O documentário, Meninas, de Sandra Werneck, retrata a realidade de meninas que engravidaram na adolescência, meninas estas com idades entre 13 e 15 anos, moradoras de comunidades carentes que tiveram a infância interrompida por conta de uma gravidez precoce, porém, não se precaveram para evitá-la, em virtude de diversos fatores, tais como, irresponsabilidade, educação precária, inobservância e falta de atenção por partes dos pais, enfim, uma conjugação de elementos que demonstram uma desestrutura familiar abrangente por todo o país e retratada por essas jovens.
A diretora Sandra Werneck teve a sensibilidade de ao mesmo tempo em que queria transmitir essa dura realidade, em momento algum fez nenhum juízo de valor, mas sim, uma crítica intrínseca ao poder público, o qual não intervém de forma efetiva, a fim de evitar casos absurdos, contudo, rotineiros, iguais ao de Edilene, 14 anos, e Joice, 15, grávidas quase ao mesmo tempo de Alex, um jovem rapaz que trabalha sabendo que terá de se desdobrar para garantir o provento mínimo suficiente para alimentar seus filhos e auxiliar suas respectivas mães, bem como Evelin, jovem de 13 anos que engravidara de um "ex-traficante", que verá seu namorado morrer igual a seu pai, em virtude do envolvimento com o tráfico de drogas.
Não há a possibilidade de encarar tais fatos como isolados, uma vez que apesar de serem retratados em famílias diversas, estão dentro de um contexto homólogo, onde no Brasil, uma em cada cinco gestantes é adolescente, demonstrando que a omissão do Estado perante essa situação agrava cada vez mais um problema que está longe de terminar, necessitando impreterivelmente de ações estatais que venham a coibir a gravidez não só na adolescência, mas a não planejada de maneira ampla, utilizando-se dos meios de comunicação, campanhas escolares ou quaisquer outras maneiras de alertar e ensinar tantos os pais quanto os filhos do quão difícil e complexo é criar uma criança nos dias de hoje, diante de uma sociedade hipócrita, preconceituosa, mal estruturada, com baixo nível de cultura e educação.
Existem debates e divergências a respeito da intervenção ou não do governo sobre as políticas de planejamento familiar, o que por sinal nos espanta ainda haver dúvida em relação a essa iminente necessidade perante perspectiva tão baixa de vida dessas pessoas, as quais não conseguem nem ao menos dizer qual o sonho de suas vidas, objetivos, metas, afinal, é algo impalpável, pois sabem não possuir meios notórios de galgá-los. Muitas perguntas surgem ao vermos essas convergências de opiniões, parecendo-nos nítida a ideia de isolar esses indivíduos para que não prejudiquem a imagem do Estado. Será que o poder público quer mesmo pessoas cultas, revestidas de boa educação e que saibam lutar pelos seus direitos, capazes de raciocinar e opinar em oposição ao que é apresentado? Documentários como este, leva-nos ter cada vez mais certeza que não, continuemos com um povo sem cultura, incapaz de escolher seus representantes através da capacidade e competências inerentes a eles. Assim sendo, diante dos fatos narrados, o que sobra é a revolta, indignação e medo de que essa realidade perdure por muito mais tempo. Abaixo, segue o documentário dividido em 5 partes, o qual lhe fará refletir muito sobre essa triste realidade.